Toda dor de cabeça é enxaqueca?

Essa é uma dúvida muito comum na consulta neurológica, especialmente em pacientes que procuram auxilio por dor de cabeça. Afinal, dor de cabeça é sinônimo de enxaqueca?

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A resposta é não!

Enxaqueca, na realidade, é somente um, dos vários tipo de dor de cabeça existentes na prática neurológica. Na prática, a enxaqueca é muito mais frequente em mulheres, em uma proporção de 3:1 em mulheres/homens.

Como características principais, geralmente se apresenta em um dos lados da cabeça, podendo variar tanto a esquerda quanto a direita, sendo pulsátil ou latejante, podendo vir acompanhada de náuseas e vômitos, alem de aversão a luz (fotofobia) e a sons (fonofobia), desta forma o paciente, quando em dor, tende a se isolar longe da luminosidade e sons, em uma tentativa de amenizar os seus sintomas. A dor, em geral,  costuma ter uma duração entre 4-72hs se não tratada devidamente.

Uma parcela dos pacientes pode desenvolver um fenômeno denominado aura, que na maior parte das vezes antecede a dor, todavia pode ocorrer também concomitantemente a dor, ou mesmo após o evento doloroso, sendo que em raras ocasiões pode surgir isoladamente.

A aura consiste em vários sintomas neurológicos, que podem ser sensitivos, motores ou visuais, algumas vezes prejudicando  a visão, linguagem e coordenação motora. O tipo mais comum é a visual, que ocorre por ativação do córtex visual (lobo occipital), acarretando então perturbação da visual, com pontos e flashes luminosos de várias formas e tamanhos distintos.

O tratamento consiste basicamente em 2 frentes:

  • Tratamento da crise aguda,
  • Prevenção de novos episódios dolorosos.  

Na crise aguda são usados os analgésicos comuns como a dipirona, ibuprofeno, naproxeno, cetoprofeno entre outros. Além dos analgésicos, podem ser empregados medicamentos mais específicos para a enxaqueca, da classe dos Triptanos, como o naratriptano, sumatriptano, zolmitriptano e razatriptano que são encontrados no mercado brasileiro, assim como o Eletriptano, ainda não disponível no Brasil. Os triptanos são disponibilizados em formulações orais, sublinguais, subcutânea e em spray nasal, justamente com a finalidade de se proporcionar alívio mais rápido da dor.

O tratamento preventivo tem como objetivo reduzir a frequência, duração e intensidade, assim o grau de incapacidade gerado pelas crises de enxaqueca, minimizando a necessidade de tratamento agudo, assim como o risco de abuso de medicamentos para dor. Esse tipo de tratamento deve ser considerado nas seguintes situações:

  • Quando as crises são maiores ou iguais a 3 crises de dor por mês, associado a qualquer nível de capacidade gerado pela dor.
  • As crises são < 3 por mês, porém o grau de incapacidade gerado pela crise é severo.

Os medicamentos profiláticos para as crise de enxaqueca são divididos em 2 classes:

Medicamentos não específicos:

  1. Antidepressivos: Amitriptilina, Nortriptilina, Venlafaxina.
  2. Anti-hipertensivos: Propanolol, Atenolol, Candesartan, Lisinopril, Metoprolol.
  3. Anticonvulsivantes: Topiramato, Valproato de Sódio.
  4. Onanbotulinumtoxina: Toxina botulínica do tipo “A”, que possui um protocolo próprio de aplicação, chamado Preempt, entre 155 a 200UI por vez, devendo se reaplicado trimestralmente devido a meia vida da toxina. 

Medicamentos específicos: 

Estes visam bloquear a função da CGRP (peptídeo relacionado a gene da calcitonina) . Esta molécula é um poderoso vasodilator, deflagrando vários fenômenos químicos em diferentes estruturas cerebrais, principalmente no sistema trigeminal-vascular, gerando assim as crises de enxaqueca.  Geralmente são medicamentos mais bem tolerados, e com tendencia a menos efeitos adversos.

  1. Anticorpos monoclonais contra a CGRP: Erenumabe, Galcanezumbe e Fremanezumabe, disponíveis no Brasil em autoaplicadores subcutâneos, que devem ser administrados  mensalmente, ou trimestralmente.
  2. Antagonistas do receptor da CGRP: Essa classe de medicamentos visam bloquear a ação da CGRP no seu receptor, sendo chamadas de “gepants”. Podem ser utilizados tanto na profilaxia da enxaqueca, assim como no seu tratamento agudo. Essas drogas possuem a comodidade de serem administradas por via oral, tendo como principais fármacos aprovados nos EUA o Atogepant e Rimegepant, todavia, até a presente data, não disponíveis  para uso nacional. Atualmente, conforme disposto no artigo acima, existem vários tipos de tratamento para a enxaqueca, que deverá ser avaliado e discutido com um médico habilitado e especialista em Neurologia ou em Dor. O tratamento proposto deverá respeitar as características e  peculiaridades de cada paciente, sempre sendo individualizado. Há de se lembrar, que o tratamento não é curativo e  sim objetiva resgatar a qualidade de vida do paciente, mantendo sempre a sua funcionalidade através da redução da frequência, duração e intensidade das crises de dor de cabeça.
     

Dr. Pedro Monteiro possui especialização em Clínica médica, assim como Neurologia, e em área de atuação em Dor

Experiência há mais 15 anos, sendo médico neurologista do quadro da Aeronáutica desde 2011.

Preceptor da residência médica de Neurologia do Hospital Central da Aeronáutica desde 2018, auxiliando na formação de novos especialistas em Neurologia a cada ano.

Experiência na aplicação de toxina Botulínica para dor de cabeça, dores crônicas e espasticidade/rigidez sendo guiada ou não por ultrassonografia. 

CRM-RJ: 52.77536-3

RQE 

Clínica Médica:15395

Neurologia:15924

Atuação em Dor: 45715